Inspirado em Proust, Em busca do tempo perdido,
quando o narrador se extasia diante
do famoso chafariz de Hubert Robert.
Um homem vê ao longe um objeto, e o chama quase que imediatamente pelo nome, pois distingue com facilidade sua forma, seus contornos, sua beleza estática. No entanto, ao chegar mais perto, diante da miríade de detalhes que lhe haviam escapado, o que antes se oferecia aos olhos como uma presença coesa se lhe afigura subitamente como um aglomerado de informações difusas. O homem se detém por infinitos momentos em meio ao que agora lhe parece o objeto real, mais próximo ao toque, embora sem forma definida.
As arestas vislumbradas de bem perto não mais se integram à nítida imagem anterior. De posse das novas percepções sobre o objeto, o homem não se afasta novamente para as sobrepor ao que via. Atarantado – e mesmo deslumbrado –, ele se perde no desvanecimento das formas, nas sensações provocadas por esse desvanecimento, e se esquece do que o nomeava. A lembrança do objeto, ou do que o tornava objeto, é perdida. Em meio ao turbilhão que lhe excita os sentidos, o homem se fixa somente na transformação do objeto em coisa nenhuma, prometendo a si mesmo que não mais se deixará enganar por formas percebidas ao longe – e a tudo pulveriza com seus olhos de lupa. O mundo lhe parece então todo feito de caóticas partículas que a nada ordenam, obedecendo apenas a uma lei constante: a mobilidade.
E, apaziguado por essa única lei, o homem se recolhe no sono satisfeito das abstrações para sempre adiadas.