O escuro me desafiou:
– Quem é você?
Baixei os olhos, de vergonha. Depois chorei. Não sabia responder.
– Como não sabe responder a uma pergunta tão comum? – insistiu ele.
Minhas mãos se engelharam em dor. Me lembrei de várias pessoas. Parecia tão fácil falar de si! Invejava-as. Eu, que tinha de sair carregando um belo espelho à minha frente: “Como me vês?” Falava, falava, mas para me conhecer. “Escrevo para me conhecer”, dissera a alguém.
– Escrevo para me conhecer – redargüi ao escuro, ganhando forças.
Ele me olhou como a uma criancinha petulante. Decerto, não me dava créditos. Ou queria me desmerecer. Sorriu, e seu sorriso soou uma gargalhada cáustica.
– Filhinha – disse –, você terá um longo tempo para isto!
Silenciou, e eu o perdi.