Coletânea
sexta-feira, dezembro 02, 2005
Pitorescos erros de tradução
Em revisões minhas:
Suficientemente Bem
Revisei a biografia de um escritor francês para uma editora. Como era apenas revisão simples do português, eu não tinha o original francês em mãos. Havia nesse trabalho algo incrível: em um trecho sobre a infância do escritor e suas notas na escola, dizia-se que ele tinha sido um aluno nada brilhante, muito pelo contrário – mas logo em seguida o autor se contradizia, afirmando como um exemplo dessa falta de brilhantismo que o biografado tinha obtido um "muito bom" em uma das matérias. Tive que correr à editora para consultar o original e as provas que o copidesque havia corrigido. Estava lá a genealogia completa do erro: Assez Bien tinha sido traduzido por "Suficientemente Bem", termo esquisito e pesadíssimo, substituído sem pudores pelo copidesque por "Muito Bom". No entanto, Assez Bien é uma menção escolar: assim como Excellent corresponderia ao nosso Excelente, Très bien a Muito Bom e Bien a Bom, Assez Bien – literalmente, "Suficientemente Bem" – só pode ser traduzido pelo nosso "Regular".
O sacrifício da atriz
Era a revisão de um livrinho bobinho sobre as filmagens do Titanic. Há a descrição da cena em que Rose (Kate Winslet) nada desesperadamente pelo interior do navio inundado, procurando por Leonardo Di Caprio. No original em francês, dizia-se que Kate quase se afogou para fazer a cena (elle a failli se noyer), mas o tradutor confundiu o verbo faillir com o verbo falloir ("ser necessário") e compôs a pérola do nonsense "ela teve que se afogar" – sugerindo talvez que foi necessário o sacrifício da vida da atriz para a perfeição da cena...
Pata Daisy
Em todo o livro, o tradutor cismou que Daisy Duck era "Pata Daisy", quando na verdade trata-se do nome em inglês para a namorada do Pato Donald, Margarida. Imagino que, com essa falta de atenção, o mesmo tradutor transformaria o Pateta (Goofy) em algo como "Bobinho"...
Enviados por amigos:
Cartaz em um quarto de hotel, Moscou:
If this is your first visit to the USSR, you are welcome to it.
O que significa: "...pode ficar com a União Soviética, nós não a queremos..."
Em um hotel japonês:
You are invited to take advantage of the chambermaid. ("Sinta-se à vontade para abusar da moça da limpeza!")
Em um hotel mexicano:
The water in this hotel is guaranteed to be clean. Personally passed by the manager. Só que pass water significa “urinar”!
Uma marca americana de molho de churrasco chamada Big John em inglês foi vendida como Gros Jos no Quebec – que significa "peitões (de mulher)".
Quando o Papa foi a Miami, alguém estava vendendo camisetas em espanhol com a inscrição "Vi la papa" em vez de "Vi al papa". A segunda frase quer dizer "Vi o Papa", e a primeira "Vi a batata".
Nas poltronas de uma companhia aérea há a inscrição "Braniff seats you in leather" (literalmente "Braniff senta você em couro", que bem adaptado seria algo como "As poltronas da Braniff são em couro"). Uma outra companhia traduziu para o espanhol como "Braniff le sienta en cuero" – mas em espanhol, en cuero significa "pelado"! (Já imaginou uma tradução literal para o português? Poderia ficar bem pior: "Braniff lhe senta o couro"...)
A sueca Electrolux anunciou seus aspiradores nos EUA com o slogan "Nothing sucks like an Electrolux", que tem dois sentidos pouco recomendáveis: "Nada chupa como..." e "Nada é tão nojento como...".
Publicados em revista
Fonte: Superinteressante, outubro de 2002
Moça! Moça!
Nick Marshall (Mel Gibson), protagonista do filme "Do que as mulheres gostam”, assiste a um jogo de basquete pela TV. Um dos jogadores se prepara para arremessar a bola e as palavras de Nick aparecem na legenda: "Moça, moça, moça!"
Moça? Na verdade, ele torcia: "Erra, erra, erra" (miss, miss, miss). Quem acabou errando foi o sujeito que fez a legenda para a versão brasileira.
Torrada!
Let's make a toast significa "vamos fazer um brinde", mas, segundo a tradutora Raquel Elimar, em muitas legendas aparece assim: "Vamos fazer uma torrada." Toast é uma das tantas palavras inglesas com dois significados. Outro erro comum envolve o verbo inglês pretend (fingir), que quase sempre vira "pretender". O livro The Physician ("o médico") foi traduzido para O Físico (na verdade, "físico" é physicist).
Motorista de disco
O tradutor Flávio Steffen lembra que "motorista de disco" entrou no lugar de "unidade de disco" na tradução de disk drive em um dos primeiros livros de informática do Brasil. Motorista, em inglês, é driver.
Arenque vermelho
Red herring é uma expressão com o sentido de pista falsa, disfarce, mas pouca gente sabe disso. Ela é sempre traduzida literalmente para "arenque vermelho". Como em "o cálcio do leite é, de fato, um arenque vermelho", em tradução virtual do livro Fit for Life, Heads & Tails, Diet for a New America.
Dinheiro na jogada
Há mal-entendidos que podem causar prejuízos astronômicos. Um deles, segundo o tradutor Francis Aubert, aconteceu com uma empresa brasileira que tentou comprar uma enorme carga chinesa de feijão preto. Só quando o navio chegou ao Brasil os empresários perceberam que o que haviam comprado era um tipo de soja. Como a negociação foi feita em inglês – língua estrangeira para os dois lados – , as empresas se confundiram com a palavra bean, que quer dizer tanto "feijão" quanto "grão".
O general Will
O pior de todos os desacertos já cometidos em uma tradução para o português brasileiro é tido como mito para a maioria dos tradutores. Mas ele está lá, no livro A teoria política do individualismo possessivo: de Hobbes até Locke. A expressão inglesa the general will, em vez de significar "a vontade geral", virou "o general Will". Resultado? Quem decidia as coisas em algumas passagens da obra não era a vontade geral, mas o poderosíssimo general Will...
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